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Neste primeiro Congresso Internacional em Mediação Artística e Cultural, pretendemos desafiar os participantes para refletir sobre profissionalidade dos mediadores artísticos e culturais.

A emergência do conceito de mediação artística e cultural, no meio do século XX, em resposta à ineficácia das políticas culturais da democratização da cultura e da democracia cultural, conduziu à emergência de novas atividades reconhecidas como relevantes socialmente. A questão que se coloca, hoje, é saber de que forma essas atividades desenvolvidas profissionalmente, por pessoas diversas, em contextos diversificados, se organizam e se congregam num perfil profissional e constituem uma profissão.

Durante os anos 2020 e 2021, em Portugal, assistimos a movimentos sociais de grupos associativos no sentido de revindicar a criação da categoria profissional do mediador cultural/artístico/educativo.

No ano 2020, a associação ECARTE XXI, criada em 2016, entregou uma carta ao primeiro-ministro, António Costa, e aos ministros das tutelas da Cultura, Trabalho, Finanças, Economia, Educação, Ciência e Segurança Social pedindo que seja criado um enquadramento jurídico e fiscal para esses trabalhadores.

No ano 2021, a comunicação social deu conta do aparecimento de outras iniciativas que reforçaram esta reivindicação. De entre estas, destacamos jovens recém-diplomados da Licenciatura em Mediação Artística e Cultural que se organizaram para formalizar a Associação Portuguesa de Mediação Artística e Cultural.

Estes últimos acontecimentos em Portugal mostram a vontade de um grupo ocupacional criar uma categoria profissional. Essa preocupação será compartilhada internacionalmente? Este anseio será baseado num referencial?

Conforme indicado por Maria do Céu Roldão (2005), essa pertença a um corpo coletivo é um dos caraterizadores de profissionalidade. Mas não é o único atributo reconhecido socialmente necessário à delimitação de uma profissão. O congresso organiza-se à volta de três eixos que agregam outros atributos de profissionalidade: o reconhecimento social da especificidade da função, o saber específico, a responsabilidade social e pública.

 

Eixo 1: Especificidade da função social dos mediadores artísticos e culturais

Neste eixo, numa tentativa de melhor definir as práticas em mediação artística e cultural, e indo ao encontro daquela que é uma reivindicação legítima deste profissionais do setor cultural, é proposto seguir as pegadas de, por exemplo, Teresa Martinho (2013) que faz uma revisão das funções desempenhas e das atividades realizadas por este novo “grupo ocupacional” ou de Martin Lussier (2015) que cartografa a mediação cultural numa região do Québec. Será do cruzamento, sobreposições, disjunções de práticas efetivas, de exercício singular da mediação artística e cultural que poderá emergir um referencial profissional.

 

Eixo 2: Saber e competências específicas dos mediadores artísticos e culturais

No seu texto, Introuvable médiateur, Isabelle Mathieu (2009) traz elementos baseados na análise de competências indicando a dificuldade em traçar fronteiras à volta de um conjunto de competências próprias dos mediadores artísticos e culturais. Neste eixo, esperam-se novos contributos, vindos de Portugal e não só, de natureza experiencial e/ou investigativa para delimitar um conjunto específico de saberes e competências dos mediadores artísticos e culturais.

 

Eixo 3: Autonomia e responsabilização social dos mediadores artísticos e culturais

No exercício de uma profissão de elevado nível de profissionalidade, as dimensões éticas e políticas são primordiais. A responsabilidade do profissional é premente e as suas decisões, tomadas com autonomia, podem ter implicações socialmente comprometidas. Neste eixo, aguardam-se reflexões, que podem ser decorrentes de casos vividos, que articulam intervenção em mediação artística e cultural com cidadania, participação, sustentabilidade, diversidade… numa aproximação a um possível código deontológico dos mediadores artísticos e culturais.

 

  • Envio de propostas de comunicação até dia 31 de março de 2022 à meia-noite, para o seguinte endereço: ci_mac@eselx.ipl.pt   
  • Os textos de uma página (2.000 a 2.500 caracteres incluindo espaços, excluindo bibliografia) serão enviados em formato Word, Times new roman, tamanho 12, espaçamento simples, com um título, o nome e detalhes de contacto do comunicador, a organização a que pertence, o eixo no qual se inscreve e uma apresentação resumida da problemática, do contexto ou dos dados mobilizados, dos resultados ou das reflexões desenvolvidas durante a apresentação, bem como as principais referências bibliográficas.
  • As línguas oficiais do congresso são o Português, Francês e Inglês, tanto para o envio de proposta quanto para a comunicação oral.

 


Referencial bibliográfico

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